por Caio Ferraro
Nós, professores, temos o péssimo hábito de analisar o
"ERRO" do aluno como algo sobrenatural, já que algo tão
"corriqueiro" e "básico" não pode ser tão difícil de ser
aprendido. As tirinhas de Bill Watterson refletem muitas das situações vividas
pelo próprio autor quando criança, especialmente as que retratam sua relação
com a escola. Será que é impossível olharmos pra trás e nos vermos no lugar dos
alunos? Bill afirma que foi um "bom aluno", mas que não sentia
saudades da escola. A infinita maioria dos alunos, assim como Calvin e Mafalda,
não enxergam nenhuma relação entre a escola e sua utilidade prática.
Por vezes chegamos a nos questionar com os colegas:
"Como ele não entendeu? Repeti duzentas vezes..." Infelizmente
convivemos com dois sensos comuns paradoxais na educação convencional:
1º - A pedagogia de Paulo Freire - os pensamentos freirianos
são constantemente elencados como princípios essenciais à uma "nova
educação".
2º - A teoria e a prática pedagógica são antagônicas - sala
dos professores é o local onde os teóricos da educação como Piaget, Perrenoud e
o próprio Paulo Freire, são crucificados por criarem teorias maravilhosas no
papel, mas que não "funcionam na prática".
Os quadrinhos, assim como todas as outras práticas
pedagógicas, auxiliam e amenizam a defasagem estrutural do ensino convencional.
São momentos dentro de uma estrutura conservadora que não acompanha as novas
teorias pedagógicas, muito embora elas estejam nos PCNs (Parâmetros
Curriculares Nacionais) como base de nossa EDUCAÇÃO. Hoje é possível observar
que estamos eternamente atrasados em relação à realidade do aluno. Quando nos
desvencilhamos de certos paradigmas, outros mais urgentes já surgiram:
"O problema é que estão tentando ir de encontro ao
futuro repetindo o que faziam no passado. E com isso estão alimentando milhares
de crianças, que não veem propósito em ir à escola." Sir Ken Robinson
É complexo exigir do professor uma mudança de perspectiva,
quando cada passo fora do enredo previamente estipulado é punido com pressões
de todos os lados: direção, colegas, pais, alunos, secretaria de ensino... Tudo
diz pra ele manter o "modus operandi", que infelizmente não funciona
há tempos, mas como valorizar o diferente? Como explicar pros pais e os
próprios professores que a maneira que eles foram educados não funciona com as
novas gerações? Há uma resistência incrível em assimilar novas práticas e novos
conteúdos, porque o método convencional é virtualmente rejeitado, entretanto, a
realidade traça um padrão para que o professor não seja contestado:
- Escrever na lousa
- Explicar o que escreveu
- Solicitar exercícios de casa
- Aplicar 4 ou mais atividades e avaliações por bimestre
- Registrar tudo no diário de classe
Aqueles que cumprirem essas metas se salvarão de toda e qualquer
pressão externa, pois cadernos cheios representam para os pais o Santo Graal da
educação.
Ok... Lembrando dos meus tempos de escola e minha atual
posição de professor a ideia é a mesma... A ESCOLA É MUITO CHATA!
Há algumas semanas,
crianças da brinquedoteca que acompanho brincavam de escolinha. Gritavam,
esperneavam, colocavam de castigo, batiam na mesa... Aos 8 anos a impressão que
elas transmitem é de que a escola é a filial do inferno na Terra. Se me perguntassem há dois anos o que eu
penso disso, eu diria que é um absurdo o que esses professores estão fazendo.
Hoje não creio que a culpa seja apenas dos docentes. Reproduzo muitos dos
vícios comportamentais que tanto abominava, o que só piora quanto mais me insiro
no sistema."E agora José?"
"Aquele que luta com monstros deve acautelar-se para
não tornar-se também um monstro. Quando se olha muito tempo um abismo, o abismo
olha para você." Nietzsche