22 junho 2010

Postagens

Andei meio ausente nas postagens, sei que não deveria, mas andei. A correria do dia a dia faz com que a gente tenha algumas prioridades e deixe de lado algumas atividades importantes, mas organização é fundamental e escrever neste blog é um exercício que não quero deixar de fazer. Prometo que serei mais atencioso com ele.
Para marcar esse recomeço, postei um texto do professor Luis Augusto Fisher (docente no curso de letras da UFRGS) que li na Zero Hora e que achei muito interessante, o texto trata da complicada relação entre professores e alunos na atualidade, essa reflexão advem do assalto realizado por um aluno a uma professora em uma escola de Porto Alegre. Não concordo com tudo o que o professor Fisher escreveu, mas que as queixas dos professores em relação ao comportamente dos alunos têm aumentado bastante, me parece bastante evidente.
Também não concordo que as inovações no campo pedagógico sejam todas más, muita coisa melhorou  e se certas teorias parecem funcionar muito melhor no discurso do que na prática é porque talvez muitos professores confundam essas idéias e acabam por trabalhar um esboço do que de fato certas teorias sugerem.
Tenho medo dos discursos que parecem evocar um passado glorioso na educação, acredito que muito mais do que uma perda de qualidade, na verdade essas dificuldades encontradas são fruto de um processo de inclusão que tem colocado quase que a totalidade das crianças na escola. Essa inclusão é sem duvida nenhuma uma vitória, mas agora é o momento de pensar também na qualificação do ensino, uma qualificação que contemple a realidade das escolas e prepare professores e alunos para as dificuldades da atualidade.
Confira abaixo o texto do Fisher e não deixe de dar a sua opnião.

A professora assaltada

LUÍS AUGUSTO FISCHER

  • Ao ler a notícia da professora assaltada por um seu aluno, semana retrasada, o senhor pensou que finalmente estamos no fundo do poço, não pensou? Pois o senhor está enganado. O fundo do poço já passou faz tempo; agora é pré-sal e sabe lá o que mais, num caminho de degradação da condição de professor que não parece ter fim.

    Foi numa escola estadual, mas poderia ter sido numa municipal, em Porto Alegre ou em outra parte, tanto faz; o aluno queria dez pilas para comprar droga, mas poderia ser para comprar pacote de figurinha da Copa, tanto faz. O certo é que nós professores estamos na linha de frente, na linha de tiro. Não eu pessoalmente, que sou um privilegiado por lidar com alunos universitários, que em regra ainda reconhecem naquela figura ali, com o caderno de chamada na mão, alguém que vale a pena ouvir; estou falando da generalidade dos professores.

    E quase tanto faz ser de escola particular ou pública: naquela, a agressão do aluno é menos física – trata-se de constranger o professor em sua condição de empregado, que está ali não para educar, mas para paparicar os clientes, que têm a seu lado a razão da grana –; na escola pública, a agressão é menos mediada, mais direta – trata-se de constranger o professor em sua condição genérica de cidadão honrado que traz consigo a tradição, o conhecimento, o mapa da mina, e é pago pelo Estado para oferecer isso tudo às novas gerações. Tem coisa pior que essas duas ordens de constrangimento?

    Talvez tenha, e por isso pensei em escrever este texto revoltado. Entre as variáveis sociais e culturais dessa opressão, figuram coisas superiores às forças dos gestores da educação: é o caso da droga, da criminalidade disseminada, das inacreditáveis facilidades que a lei criou para agressores consumados. Isso tudo está fora do nosso alcance. Mas há um inimigo do professor e da educação que está, ou deveria estar, ao alcance do gestor da educação. Esse inimigo é a mentalidade anti-intelectual e anticientífica de grande parte dos pedagogos e dos próprios gestores da educação, em nossos tempos.

    Sabe onde se esconde esse inimigo? Na recusa à cobrança de conteúdos. No repúdio à prova de conhecimentos. No menosprezo à leitura de livros clássicos. Na ridicularização do professor que quer dar aulas expositivas. No endeusamento de parcialíssimas premissas do dito construtivismo. Na fantasia da aquisição e da construção do conhecimento como coisa indolor e acessível aos que não se esforçam.

    Este inimigo – repito, para não comprar a briga errada – é uma mentalidade, que está no poder e que se expressa pela voz dos pedagogos, na maior parte das vezes, e não na dos professores. Combater esse inimigo é parte indispensável da luta pela restauração da dignidade do professor.