18 julho 2010
Chimamanda Adichie: O perigo de uma única história - Parte 1
Lei 10.639/03 e Lei 11.645/08 (02)
Lei 10.639 e Lei 11.645/08
O advento das leis 10.639/03 e 11.645/08 trouxe consigo a possibilidade de reparo a uma defasagem muito grande no que se refere à valorização do papel do negro e do indígena na construção da identidade do povo brasileiro. Por anos, o papel associado às populações africanas nos conteúdos escolares ligados a história do Brasil apenas os mencionavam na condição de escravos, sem valorizar a cultura trazida por estes povos e toda a influência que ela teve na construção da identidade cultural brasileira, enquanto que os indígenas parecem desaparecer das paginas da história depois da chegada dos europeus a América.
Outros povos, no entanto, sempre tiveram lugar destacado nos estudos voltados a identificar as origens de nossa cultura. Nunca foi negado a portugueses, italianos, alemães, entre outros, sua importância como culturas originárias desta grande miscigenação étnico-cultural que forma o Brasil. No entanto, a identidade indígena e africana sempre foram, ao longo de nossa história, consideradas como inferiores pela elite nacional, sendo sempre marginalizadas ou até mesmo repudiadas.
Foi somente através de um grande histórico de lutas e reivindicações que estes grupos sociais conseguiram sair da invisibilidade e ter sua memória recuperada e respeitada. A organização, principalmente do movimento negro, foi fundamental para que direitos destas populações fossem assegurados através de ações afirmativas, como, por exemplo, a política de cotas nas universidades federais. Naturalmente esta é uma luta que ainda da seus primeiros passos, mesma que o histórico de organização destes grupos já seja bem extenso, ainda a muito que mudar em nossa sociedade em relação às condições de acesso a emprego, educação, saúde e dignidade entre os diferentes grupos étnicos.
A luta dos negros em nosso país por melhoria em suas condições de vida teve como bandeira histórica o acesso a educação, conforme Sales Augusto dos Santos:
A valorização da educação formal foi uma das várias técnicas sociais empregadas pelos negros para ascender de status. Houve uma propensão dos negros em valorizar a escola e a aprendizagem escolar como um "bem supremo" e uma espécie de "abre-te sésamo" da sociedade moderna. A escola passou a ser definida socialmente pelos negros como um veículo de ascensão social (...).[1]
Para dar continuidade a estes avanços, são necessários os esforços de vários seguimentos da sociedade. Em primeiro lugar o governo deve dar subsídios para a real implantação da lei, financiando a produção de materiais didáticos que estejam de acordo com a proposta da lei, incentivando cursos de capacitação de professores para poderem trabalhar com a temática e também exercendo seu papel de fiscalizador, exigindo que se cumpra a proposta. Aos professores talvez caiba o desafio maior, compensar formações que em muitos casos não tiveram a preocupação de trabalhar essas temáticas, e procurar se qualificar e se adaptar para estar integrado a proposta de ensinar os conteúdos de história e cultura afro-brasileira e indígena nas escolas.
O primeiro passo já foi dado, já está vigorando uma lei que regulamenta e exige essa reparação histórica na forma como nos relacionamos com nossos antepassados africanos e indígenas. Cabe a nós, professores e sociedade civil, trabalharmos para tornar efetiva a implantação desta lei, e talvez com isso ajudar a romper com os preconceitos e desigualdades que ainda persistem em nossa sociedade.
[1] SANTOS, Sales Augusto dos. Educação Anti-racista: caminhos abertos pela Lei 10.639/03 – Acesso em 18/07/2010. Disponível em http://moodleinstitucional.ufrgs.br/file.php/9360/marcia/TEXTO_SALES_PARA_TOPICO2.pdf
22 junho 2010
Postagens
Para marcar esse recomeço, postei um texto do professor Luis Augusto Fisher (docente no curso de letras da UFRGS) que li na Zero Hora e que achei muito interessante, o texto trata da complicada relação entre professores e alunos na atualidade, essa reflexão advem do assalto realizado por um aluno a uma professora em uma escola de Porto Alegre. Não concordo com tudo o que o professor Fisher escreveu, mas que as queixas dos professores em relação ao comportamente dos alunos têm aumentado bastante, me parece bastante evidente.
Também não concordo que as inovações no campo pedagógico sejam todas más, muita coisa melhorou e se certas teorias parecem funcionar muito melhor no discurso do que na prática é porque talvez muitos professores confundam essas idéias e acabam por trabalhar um esboço do que de fato certas teorias sugerem.
Tenho medo dos discursos que parecem evocar um passado glorioso na educação, acredito que muito mais do que uma perda de qualidade, na verdade essas dificuldades encontradas são fruto de um processo de inclusão que tem colocado quase que a totalidade das crianças na escola. Essa inclusão é sem duvida nenhuma uma vitória, mas agora é o momento de pensar também na qualificação do ensino, uma qualificação que contemple a realidade das escolas e prepare professores e alunos para as dificuldades da atualidade.
Confira abaixo o texto do Fisher e não deixe de dar a sua opnião.
A professora assaltada
LUÍS AUGUSTO FISCHER
- Ao ler a notícia da professora assaltada por um seu aluno, semana retrasada, o senhor pensou que finalmente estamos no fundo do poço, não pensou? Pois o senhor está enganado. O fundo do poço já passou faz tempo; agora é pré-sal e sabe lá o que mais, num caminho de degradação da condição de professor que não parece ter fim.
Foi numa escola estadual, mas poderia ter sido numa municipal, em Porto Alegre ou em outra parte, tanto faz; o aluno queria dez pilas para comprar droga, mas poderia ser para comprar pacote de figurinha da Copa, tanto faz. O certo é que nós professores estamos na linha de frente, na linha de tiro. Não eu pessoalmente, que sou um privilegiado por lidar com alunos universitários, que em regra ainda reconhecem naquela figura ali, com o caderno de chamada na mão, alguém que vale a pena ouvir; estou falando da generalidade dos professores.
E quase tanto faz ser de escola particular ou pública: naquela, a agressão do aluno é menos física – trata-se de constranger o professor em sua condição de empregado, que está ali não para educar, mas para paparicar os clientes, que têm a seu lado a razão da grana –; na escola pública, a agressão é menos mediada, mais direta – trata-se de constranger o professor em sua condição genérica de cidadão honrado que traz consigo a tradição, o conhecimento, o mapa da mina, e é pago pelo Estado para oferecer isso tudo às novas gerações. Tem coisa pior que essas duas ordens de constrangimento?
Talvez tenha, e por isso pensei em escrever este texto revoltado. Entre as variáveis sociais e culturais dessa opressão, figuram coisas superiores às forças dos gestores da educação: é o caso da droga, da criminalidade disseminada, das inacreditáveis facilidades que a lei criou para agressores consumados. Isso tudo está fora do nosso alcance. Mas há um inimigo do professor e da educação que está, ou deveria estar, ao alcance do gestor da educação. Esse inimigo é a mentalidade anti-intelectual e anticientífica de grande parte dos pedagogos e dos próprios gestores da educação, em nossos tempos.
Sabe onde se esconde esse inimigo? Na recusa à cobrança de conteúdos. No repúdio à prova de conhecimentos. No menosprezo à leitura de livros clássicos. Na ridicularização do professor que quer dar aulas expositivas. No endeusamento de parcialíssimas premissas do dito construtivismo. Na fantasia da aquisição e da construção do conhecimento como coisa indolor e acessível aos que não se esforçam.
Este inimigo – repito, para não comprar a briga errada – é uma mentalidade, que está no poder e que se expressa pela voz dos pedagogos, na maior parte das vezes, e não na dos professores. Combater esse inimigo é parte indispensável da luta pela restauração da dignidade do professor.
26 abril 2010
Leitura em sala de aula
No encerramento da Semana, realizamos uma Mini Maratona Literária, durante 3h aproximadamente realizando a leitura do livro Alice no País das Maravilhas, foi cansativo, mas muito interessante.
OK, é uma informação legal, mas o que tem a ver com o conteúdo deste blog?
No dia seguinte, depois das atividades, e pensando sobre a Semana, comecei a pensar em alguns aspectos relacionados a leitura em sala de aula. Não sei se essa é uma caracteristica só minha, mas no pouco tempo que lecionei (estágio) sempre procurei fugir dos modelos tradicionais de trabalhar em sala de aula, um pouco por considerá-los ultrapassados e um pouco por necessidade de inovar, contudo, a experiência da maratona literária me fez repensar algumas coisas ligadas ao modo "tradicional" de dar aula.
Talvez não exista nada mais tradicional em uma sala de aula do que o exercício de leitura coletiva e a leitura em voz alta (lembro de fazer isso desde o meu ensino fundamental), e nunca achei que essa fosse uma metodológia das mais "pedagógicas", no entanto, percebi que muitos alunos do ensino fundamental e até do ensino médio apresentam sérias dificuldades de leitura e escrita, portanto é essencial que estes alunos realizem exercicios para corrigir essas dificuldades.
Acredito que todo professor gostaria de poder chegar na sala de aula e aprofundar conteúdos, contar com alunos que já viessem com uma boa bagagem, etc. Mas a realidade nem sempre é essa, e uma coisa que aprendi na faculdade é que não temos que tentar fazer milagres, se recebermos alunos no ensino médio com dificuldade de leitura, devemos ensiná-los a ler antes de qualquer coisa.
Bom, essa é só uma pequena reflexão do papel da leitura na educação, esse é um campo vasto e muita gente já escreveu sobre o assunto (quem sabe qualquer hora eu me inspire e escreva um artigo sobre isso também). Abaixo uma foto da Maratona Literária de Guaíba.
03 abril 2010
Direito à memória e à verdade
O objetivo do curso era capacitar professores para a discussão sobre a história do Brasil no periodo da Ditadura Militar sob a ótica dos direitos humanos.
Eu, particularmente, achei a proposta muito interessante e o material desenvolvido de ótima qualidade. São textos, apresentações e links para vídeos postados no youtube, todos muito bem feitos e bem organizados.
Copiei esse material e resolvi disponibilizá-lo aqui no blog, espero que gostem e façam bom proveito.
Link módulo I aqui
Link módulo II aqui
Material Complementar aqui
24 março 2010
Globalização
Conheci o site www.umsabadoqualquer.com quase por acaso, são tirinhas muito inteligentes que tem como personagens Deus, Adão, Eva e o Luciraldo (eventualmente aparecem alguns personagens com participações especiais, como Einstein, Nietzsche ou Darwin).
O objetivo do site não é catequisar ninguém, suas tirinhas utilizam de muito humor para discutir algumas questões muito interessantes, desde questões que envolvem um pouco de história antiga, até temas bem atuais, como meio ambiente ou globalização.
Eu selecionei essas tirinhas que falam sobre globalização, acho que a partir desse material da para montar uma ótima aula. E não deixem de visitar o site Um Sábado Qualquer, tem muito material bom disponivel.
19 março 2010
A história das coisas
O Youtube e outros sites de vídeo da internet facilitaram muito a vida do professor, a quantidade de bons vídeos que estão disponiveis on-line é muito grande e a possibilidade de trabalhar com esse material é muito tentadora. Uma sugestão de um ótimo vídeo é o " A história das coisas", um video de 20 minutos que fala de consumismo, meio ambiente, produção e outras coisinhas mais. É um material muito didático e com uma leitura muito interessante do processo industrial e do impacto desse processo para o meio ambiente e para a sociedade.
18 março 2010
Espelhos
A utilização em sala de aula:
Quando comecei a ler este livro a primeira coisa que me veio a mente foi: "que livro ótimo para se usar em sala de aula", e são várias as razões para afirmar isso:
1ª - textos curtos - os textos do livro raramente ultrapassam uma página, isso facilita na hora de fazer uma cópia ou até mesmo para realizar a leitura no curto espaço de tempo que temos em sala de aula. Além disso, o texto não se torna massante e pode ser facilmente assimilado pela turma.
2º - Variedade de assuntos - quando indiquei esse livro para alguns amigos, eles me perguntaram sobre o que ele tratava, eu fui obrigado a responder "sobre tudo", é impressionante a riqueza de informações deste livro, ele trata desde questões de história antiga, até questões ligadas a história contemporânea.
3º - Textos críticos e muito bem escritos - a qualidade do trabalho do Galeano é algo que não se discute, mas em "Espelhos" ele realmente "se puxa". São textos curtos, mas de uma profundidade impressionante. Em poucas linhas ele consegue fazer a gente pensar em aspectos da história que muitos autores não atingem em um livro inteiro.
4º - Não é um livro didático - (isso não é uma crítica aos livros didáticos, hehe) O fato é que é um texto bem escrito, como salientei anteriormente, e que não esgota o assunto discutido. Provavelmente quem não estuda muito história vai ficar "viajando" em alguns textos. Acho essa característica interessante porque o professor pode usar os textos como complemento a sua aula, buscando enfatizar alguns aspectos do conteúdo que ele está trabalhando.
Enfim, esses são só alguns aspectos. Lendo o livro vocês vão ver que existem muitos outros que deixei de fora. Espero que essa dica possa ser útil, e caso você não seja um educador, ainda assim recomento muito esse livro, com certeza será muito enriquecedor.